terça-feira, 1 de junho de 2010

Uma casa em Athlone >>>









Uma casa em Athlone


Seis famílias sem teto dividem casarão histórico em área que Fifa


construiu um estacionamento para torcedores da Copa –



Rodolfo Tiengo

Direto da Cidade do Cabo



Estamos em Athlone, um humilde subúrbio da Cidade do Cabo habitado por

negros e muçulmanos. Não muito longe daqui, estão áreas de alto

consumo e visitação como Claremont e Cavendish Mall, na Main Road (a

principal via expressa da cidade). Aqui está localizado o Athlone

Stadium, que será utilizado pela Fifa para a realização de treinos

oficiais na cidade.



Enquanto os homens trabalham incessantemente para concluir a área de

estacionamento nos arredores do estádio, colocando muita pedra e

piche, um impasse permanece. Logo ao lado, uma antiga construção, que

décadas atrás serviu até de escritório de guerra, tornou-se um abrigo

improvisado, mas quase definitivo, para 24 pessoas desabrigadas que

dividem entre si seis apertados cômodos há uma década. Acontece que a

construção está no meio dos planos do governo sul-africano e dos

organizadores da Copa, porque está localizado dentro de uma área que

também serviria de estacionamento para os carros dos torcedores. O

governo, no entanto, nega que esteja tentando remover pobres de suas

residências em importantes destinos da Copa, como Athlone.

 


NÃO ACABOU - Trabalhadores colocam piche em área de estacionamento do Athlone Stadium. FOTO: Marcos Limonti




OBRA FARAÔNICA - Vista geral do Estádio Athlone, no subúrbio de mesmo nome da praça esportiva, na Cidade do Cabo. No local já foram gastos cerca de R$ 23,7 milhões em reformas. FOTO: Marcos Limonti



A reportagem conversou com uma das famílias que vivem no local, que


informou ter sido pressionada a sair dali. “Meu sentimento a respeito

da Fifa… Eu não estou muito contente com eles, porque eles querem

retirar eu e minha família daqui. Como eles podem convidar pessoas a

saírem de seus lares quando elas não têm lugar algum para ir?”,

relatou Alwryn Abrahams, 40 anos, que há nove anos divide um dos

cômodos da antiga casa com a mulher Cindy, 29, e seus filhos Chad, 8,

e Zea, de apenas cinco meses.



Não se pode dizer que as condições de moradia são piores do que uma

shack – típica residência encontrada em uma township –, mas as

limitações são muitas. Pra começar, nada de eletricidade. Se quiserem

ver televisão, os moradores têm a única opção de obter energia de uma

bateria de carro. Se quiserem luz, o único jeito é acender velas que

ficam coladas em garrafas de vinho. Se quiserem se esquentar do frio,

vão do lado de fora da casa e ficam próximos da fogueira que sempre

armam quando chega o inverno – assim como já tinha feito Alwryn,

quando a reportagem chegou em Athlone.

 
“Vim pra cá porque não tinha para onde ir”, explica o sul-africano,


que atualmente está desempregado e ainda se lembra de quando ganhava 3

mil randes por mês com seu trabalho no setor de construção. Quem por

enquanto sustenta a casa é a mulher, que recebe um auxílio do governo

de aproximadamente 500 randes – o que está na faixa de R$ 125.

Com um explícito ódio pelo governo do país, que se reflete na aversão

aos Bafana Bafana e no apoio ao Brasil, Alwryn garante que vai ficar

ali por toda a Copa, mesmo que tentem escondê-los com um muro ou

tentem removê-los para outra região. “Este é um estacionamento para os

jornalistas de outros continentes verem”, afirma, complementando que a

área onde está sua casa acrescentaria poucas vagas para carros ao

estacionamento. “A questão não está concluída ainda. Eles vão tentar

nos colocar em outro lugar na vizinhança para nos esconder dos

jornalistas”.
 
Há quase duas décadas, o Athlone Stadium está em reformas. Desde


1997, a direção do tradicional estádio vem liderando construções de

alas, modernizações internas e conforto para se internacionalizar.

Desde então, já foram investidos 99,36 milhões de randes, que incluem

as três alas de arquibancadas que foram construídas, segundo o

supervisor de operações do estádio, Bernard Miller. Somente desde

2007, foram mais de 18 milhões.

O lugar é de causar inveja a bons estádios brasileiros. Moderno centro

de convenções, elevadores que sobem e descem por cinco andares

diferentes, área vip para acompanhar os treinos, isso sem contar o

gramado novo e os novos e enumerados bancos das arquibancadas – o

único detalhe que pesou contra foram os bancos sujos pelos pássaros.

Por enquanto, somente a seleção da Holanda confirmou que irá treinar

por lá no dia 22 de junho – no dia 24 o time enfrenta Camarões pelo

grupo E da Copa.

A direção do Athlone Stadium ainda disse que atualmente o local tem

capacidade para mais de 24 mil pessoas sentadas, mas que provavelmente

durante os treinos da Copa as entradas não passarão de cinco mil. A

entrada – informou Miller – será gratuita, mas controlada pela

portaria.
 
por:
http://comercionacopa.wordpress.com/

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