sexta-feira, 9 de julho de 2010

O “futebol” foi embora, mas o samba ficou












Com alegria e samba no pé, os brasileiros Esdras e Walace contagiaram torcedores no Green Point FOTO: Marcos Limonti

Rodolfo Tiengo



Direto da Cidade do Cabo



Se por uma série de fatores faltou alegria dentro de campo, sobrou do lado de fora. Os torcedores brasileiros deram uma lição de ânimo durante a semifinal entre Holanda e Uruguai, na Cidade do Cabo. Vencendo a tristeza de não ter a seleção brasileira entre os quatro melhores do mundial, os torcedores chamaram a atenção nos arredores do Green Point, onde Luis Fabiano e companhia deveriam estar jogando na noite de terça-feira, às 20h30 (15h30 no Brasil) se não tivessem perdido nas quartas de final para a Holanda de Robben.



Em meio a uma multidão de holandeses bastante otimistas, com direito a trajes peculiares e muitas vezes bizarros, e uruguaios em plena cantoria, o verde e o amarelo tiveram destaque especial. Eram muitos brasileiros que preferiram ver a partida e prestigiar futebol e em vez de vender o ingresso. E revender tíquetes na porta do estádio estava bem complicado, mesmo para quem abaixou o preço. Se por um lado a polícia estava de marcação cerrada em cambistas e negociadores de última hora, quem tentou vender enfrentou o problema da alta oferta. Assim como nas quartas entre Brasil e Holanda, em Port Elizabeth, havia muitos ingressos disponíveis – duas horas antes do jogo, no site da Fifa ainda havia entradas para as categorias 1 e 2.







Dia de festa para os holandeses, que abusaram da criatividade para apoiar sua seleção FOTO: Marcos Limonti

O marcante samba, bem ao clima de “o show tem que continuar”, foi o centro das atenções em uma das entradas do estádio. Todo mundo parou para ver e ouvir brasileiros conduzindo tambores e um conjunto de tamborins, além de letras tupiniquins conhecidas. Eram os amigos Walace Menezes, 50, e Esdras Macedo, 44, que apesar da derrota de nossos jogadores esbanjavam entusiasmo. Até parecia que o Brasil ia jogar.



Com seus instrumentos de percussão, embalaram muitos estrangeiros, inclusive holandeses – não há nada mais engraçado do que ver gringo tentando sambar. “Queria ver o Brasil aqui jogando contra o Uruguai, mas de qualquer modo estamos aqui representando o Brasil. Estamos aqui pelo esporte”, afirma Walace, que é consultor de informática e veio de Goiânia.







Os torcedores uruguaios chegaram otimistas e tiveram esperanças até o apito final da partida FOTO: Marcos Limonti

Ele, que portava um tambor com um símbolo da Gaviões da Fiel e não parava um minuto, e seu cunhado Esdras, que é autônomo e mora em Recife, chegaram à África do Sul no dia 2 de junho. Os dois viram todos os jogos da seleção brasileira, bem como o jogo de abertura entre África do Sul e México, no Soccer City, em Joanesburgo. Em todos eles, eles contam ter entrado com ingressos comprados na porta – motivo pelo qual os fazem acreditar que vão ver a final dentro do estádio, mesmo sem ainda garantir entradas.



Em todas as partidas, Esdras garante ter conseguido entrar com sua percussão, feita com oito tamborins que são tocados ao mesmo tempo e que ele apelidou de “gambiarra”. O autônomo e o consultor já viram sete Copas in loco. “A Copa da África do Sul é surpreendente, maravilhosa. O calor humano parece com o do Brasil”, complementa o recifense, bastante feliz com a hospitalidade do povo africano nas últimas semanas.



Festa do futebol









Holandeses agora estão em clima de expectativa para a final, que pode trazer o primeiro título mundial do país FOTO: Marcos Limonti







A vitória por 3 a 2 da Holanda sobre o Uruguai foi uma verdadeira festa do futebol. Se dentro de campo as equipes se esforçaram e esbanjaram determinação para os 62 mil espectadores - inclusive com os uruguaios tentando o empate até o último minuto -, do lado de fora o clima de Copa do Mundo era dos melhores.



A partida com ingressos de sobra lotou os arredores do Green Point. Por conta do elevado número de pessoas circulando entre o estádio e a Waterfront, que concentra bares e restaurantes, a polícia teve trabalho para controlar o trânsito. Após a partida, o tráfego de veículos ficou lento – demoramos 30 minutos para sair do congestionamento.







Um dos lances mais violentos da partida foi quando o uruguaio Martin Caceres acertou a cabeça do holandês Demy Dzeeuw FOTO: Marcos Limonti

Em número, os holandeses eram superiores, que chamaram a atenção com suas roupas e fantasias laranjas. Mas os uruguaios não deixaram por menos e entoaram o canto ”Voltaremos, voltaremos, voltaremos outra vez. Voltaremos a ser campeões, como na primeira vez”, remetendo ao título mundial conquistado em 1930 – lembrando que o Uruguai é bicampeão mundial.



Quem não tinha ingresso para entrar no estádio, não teve problemas. A Waterfront garantiu que os fãs do futebol sem ingresso acompanhassem a partida e ainda assim sentir todo o clima da decisão. O principal ponto de exibição foi um telão instalado num palco aberto onde geralmente se apresentam bandas locais. Restaurantes, bares e cafeterias também ficaram com mesas cheias. No La Playa Café, onde a reportagem viu o jogo, havia muitos torcedores sulafricanos conferindo a semifinal – eles que evidentemente apoiavam os holandeses, já que o Uruguai foi pivô da eliminação dos Bafana Bafana na primeira fase.







Muito nervosismo entre uruguaios, principalmente nos minutos finais do jogo, quando o time chegou a marcar o segundo gol e ainda buscava o empate FOTO: Marcos Limonti

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