segunda-feira, 8 de março de 2010

Saúde pública no mundial.


Trabalhadoras do Sexo







Para coibir transmissão, comitê do governo quer treinar "trabalhadores do sexo" para relações seguras no Mundial

Projeto, que deve sofrer só ajustes em votação amanhã, descriminaliza a prostituição no período do torneio; doença é epidemia no país

FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO

A trégua no combate à prostituição durante a Copa da África do Sul é uma das recomendações para evitar que a Aids se espalhe durante o torneio, segundo documento preliminar do órgão do governo responsável pela luta contra a doença.
O texto obtido pela Folha, com oito páginas, é de autoria do Conselho Nacional de Aids da África do Sul (Sanac, na sigla em inglês), principal formulador de políticas anti-Aids no país, onde a doença atinge níveis epidêmicos. O órgão é chefiado pelo vice-presidente sul- -africano, Kgalema Motlanthe.
O documento será votado pela plenária do Sanac amanhã, mas não se esperam grandes mudanças, de acordo com o coordenador do grupo que o elaborou, Mabalane Mfundisi.
"Com o objetivo de assegurar a proteção de trabalhadores do sexo e de seus clientes durante a Copa, o governo sul-africano está sendo instado, por meio do Sanac, a pôr em prática uma moratória na implementação de todas as leis relacionadas ao trabalho sexual", diz o texto, produto de seis seminários desde novembro de 2009.
Na África do Sul, a prostituição é criminalizada, mas largamente praticada. Durante a Copa, o mercado do sexo deve aumentar, prevê o documento.
"Espera-se que muitos trabalhadores do sexo se instalem na África do Sul durante a Copa. E que alguns dos torcedores, tanto locais como estrangeiros, envolvam-se em atividades sexuais", diz o texto.
Segundo o Sanac, a prostituição é um dos principais vetores de transmissão da Aids no país. O círculo começa com homens que pegam a doença e geralmente não sabem disso, pois não fazem o teste de HIV. Acabam passando o vírus para suas mulheres, que depois darão à luz crianças doentes.
Na África do Sul, a Aids atinge 10,9% da população, ou 5 milhões de pessoas, o maior número absoluto do mundo. No Brasil, segundo o escritório da ONU que lida com a Aids, a taxa de infectados é de 0,6% da população. Num evento da magnitude da Copa, em que quase meio milhão de estrangeiros chegarão para um mês de diversão, o risco de o HIV se alastrar é considerável.
"Os trabalhadores do sexo precisam de aconselhamento e informação sobreAids, de modo a não passarem o vírus adiante. Mas como vou organizar um workshop quando a atividade é criminalizada? Como vou convencer que é apenas um seminário e não uma armadilha da polícia?", diz Mfundisi.
O conselho pede que sejam elaborados programas específicos de aconselhamento em "zonas quentes" de prostituição nas nove cidades-sedes, especialmente nos arredores de locais frequentados por turistas. Também defende treinamento para policiais lidarem com prostitutas e o estabelecimento de "áreas seguras" -em clínicas, por exemplo-, em que possam receber assistência.
Na África do Sul, as recomendações do Sanac carregam peso político, até porque o órgão é chefiado pelo vice-presidente. Mas o governo não está obrigado a seguir suas orientações, especialmente num tema tão polêmico. O presidente Jacob Zuma terá a palavra final.
Fundado em 2000, o Sanac tem como função "aconselhar o governo em política e estratégia relacionadas à Aids", segundo seu estatuto, e também monitorar a atuação do Executivo. Sete ministros e 17 representantes da sociedade civil também compõem o órgão.



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