Direto de Joanesburgo
Os Bafana Bafana não estão bem na Copa. A seleção de Parreira perdeu por três a zero para o Uruguai e está quase dando adeus ao sonho do mundial da Fifa. Mas não é isso que importa aqui em Twala Street, dentro de Soweto. Nessa convidativa e bem familiar rua, com casas humildes mas dignas, há algo de especial que simboliza o verdadeiro apreço que os sul-africanos sentem pelo futebol.
Bandeiras da África do Sul, desenhos de bola e outros objetos transformaram a atmosfera da paragem, que ainda vê traços de subdesenvolvimento como a falta de saneamento básico. Como num bairro brasileiro, aqui também está tudo enfeitado por causa da Copa do Mundo. Em conversa com moradores da região, descobrimos que a arte foi feita pelas crianças entre 8 e 10 anos, com ajuda de suas famílias, que vivem na vizinhança e se juntaram para deixar tudo pronto.
Esta é a primeira vez que a rua Twala vê algo do tipo. Até então, os moradores assistiam aos jogos da Copa do Mundo pela TV – afinal os sul-africanos daqui são apaixonados por futebol – mas não se preocupavam com um detalhe como esse. “Nós realmente gostamos de futebol, mas essa é a primeira vez que pintamos a rua”, afirma David Sangweni, 39 anos. Desempregado e com três filhos, ele nasceu e foi criado em Soweto naquela mesma rua.
Sangweni é representante de um momento histórico triste da África do Sul. Ele apenas era uma criança, mas viu de perto a forte repreensão da polícia branca no período do apartheid, no chamado 16 de junho de 1976, quando milhares de jovens negros foram mortos enquanto faziam um protesto pacífico contra uma lei que impunha o uso do africâner nas escolas.
Atualmente a data é chamada de Dia da Juventude e, no meio de uma Copa do Mundo, foi lembrada de modo pacífico e triste, apenas com eventos solenes em forma de funeral, mas anos atrás era sinal de vingança para os negros. “Não é como antes. Antes nós costumávamos praticar vandalismo, invadir lojas, padarias, atacar casas de brancos, quebrar ônibus. Neste dia não podíamos ver nem polícia, nem brancos. Mas isso não acontece mais. A história mudou quando Nelson Mandela assumiu a presidência, em 1994”, explica, comentando que em vez de vingança, o clima é como se fosse de celebração do Natal, com um toque extra de vuvuzelas, já que estamos no meio de um mundial da Fifa.
“Eu cresci brigando com os brancos. Eu não estava consciente de que aquilo poderia ser perigoso para mim”, diz quando se lembra das vezes em que participou de motins que lembravam a tragédia. Por fim, David Sangweni fala da importância de Mandela para a nação. “Mandela é meu herói. Ele mudou minha vida, mudou nossas vidas. Se não fosse por ele, não sei o que seria deste país”, conclui.
por : http://comercionacopa.wordpress.com/
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