Copa do Mundo para quem?
Rodolfo Tiengo
Direto de Joanesburgo
“A Copa do Mundo é para os ricos”, “Futebol é um desejo, não uma necessidade”, são algumas das frases que mais chamam a atenção nas placas. O subúrbio de Sandton estava lotado de gente querendo festejar a chegada do mundial da Fifa. Mas as pessoas que se enfileiravam à margem da multidão, ostentando sua revolta bem em frente ao famoso Nelson Mandela Square, têm uma inquietação por trás do som das vuvuzelas, da euforia do maior evento esportivo do mundo e da felicidade geral da nação dos Bafana Bafana.
São membros da APF ou simplesmente Fórum Anti-Privatização. São cerca de dez pessoas, trajadas em roupas simples e com o protesto na ponta da língua – se passassem de 50 poderiam ser presos, segundo um dos integrantes da equipe. Dizem gostar de futebol, mas não concordam com os elevados investimentos realizados com o evento, enquanto questões sociais mais urgentes são deixadas de lado.
A realização da Copa representou um investimento de quase 20 bilhões de randes, algo em torno de R$ 5 bilhões. Cinco estádios construídos e cinco reformados, além de reparos urbanísticos inacabáveis para recepcionar os turistas. Enquanto isso, as townships continuam com os problemas de sempre.
A entidade reclama que todo esse trabalho em cima do mundial, após a Copa, será em vão. Green Point ou Soccer City, acreditam, serão daqui pouco tempo enormes espaços inutilizados. Também reclamam da maneira como muita gente foi retirada de áreas turísticas somente por causa do mundial. Além disso, a APF acusa a Fifa de não permitir que as comunidades locais lucrem com o evento. Segundo documento divulgado pela entidade, as leis da Fifa não permitem o comércio a um quilômetro dos estádios – se isso acontecer o infrator paga a fiança de 10 mil randes além de ficar preso por seis meses.
“Nós estamos protestando contra os altos gastos com futebol. Não estamos dizendo que odiamos futebol, nós amamos o futebol. Mas ao mesmo tempo em que gostamos de futebol, queremos investimento em educação, habitação. Não é todo mundo que está sendo beneficiado com a Copa do Mundo”, afirma o carpinteiro Noam Sitto, de 57 anos, que ainda garantiu que o protesto só aconteceria até sexta-feira e depois pararia com o início dos jogos. Sitto vive sozinho em Alexandra e tem uma filha de 25 anos. “A vida em Alexandra é uma miséria”, complementa.
Aparentemente mais revoltada, a sul-africana Mary Maitse, de 76 anos, e moradora do Soweto desde sempre, também protestava a poucos metros do West Street, onde milhares de torcedores ignoravam aquela situação. “Eu estou aqui porque esta Copa do Mundo não vai fazer nada por mim, somente para os ricos. Eu vou continuar na pobreza para o resto da minha vida”, afirmou, acrescentando que não ganha o suficiente para sustentar os três netos e o filho que moram consigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário