Craques caninos encantam a África do sul
O coach dog André Rosa e o craque Fenômeno. Após esta exibição, o fotógrafo Marcos Limonti, que estava de olho no lance, levou umas patadas na barriga FOTO Marcos Limonti
Rodolfo Tiengo
Direto de Joanesburgo
É mais do que sabido que a metáfora canina perfeita para definir o povo brasileiro é o cachorro vira-lata. Surgido da miscigenação, é uma raça que aprendeu a se adaptar a diferentes situações, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima, como diz a canção. No país da Copa, há dois verdadeiros cães embaixadores do Brasil que estão fazendo sucesso com sua habilidade com a bola. São eles, Fenômeno e Garrincha, chamados assim como uma homenagem à excelência futebolística nacional: a Ronaldo, um dos maiores artilheiros da Copa do Mundo de todos os tempos, e ao falecido ”Mané”, craque da seleção brasileira das Copas de 1958 e 1962.
A dupla dinâmica que tem reunido multidões por onde passa é formada por dois belos cachorros sem raça definida. Adestrados com todo o carinho e como filhos pelo coach dog André Francisco Rosa, 32 anos, os cães são fanáticos por futebol e são bastante talentosos. Os artistas da bola se apresentam em qualquer lugar em que haja público, do elegante saguão do Aeroporto Internacional OR Tambo, em Joanesburgo, a um simples campo de terra batida em Soweto.
De acordo com Rosa, que vive em São Paulo e está na África do Sul há mais de um mês, os animais já tinham uma inclinação especial para o esporte de Kaká e Messi e que apenas aprimorou neles o dom. “Eles aprenderam naturalmente. Fenômeno e Garrincha amam a bola e aproveitei isso. Eu os treino com estímulos de carinho, agrado e observação, coisas que também podem ser aplicadas no ser humano”, diz André, que submete os animais a treinos diários de 20 minutos e a uma alimentação balanceada.
O paulistano atua no segmento há 15 anos e já adestrou mais de mil cães, entre eles “celebridades” de comerciais de TV de grandes portais de internet, montadoras de carros e operadoras de celular. No currículo, André também adestrou as famosas galinhas do filme “Cidade de Deus” e ainda garante ter condições de controlar o comportamento de animais selvagens como os leões.
Segundo o adestrador André Rosa, inclinação dos cachorros para o futebol surgiu naturalmente FOTO: Marcos Limonti
É ao mesmo tempo impressionante e divertido ver uma exibição dos craques caninos, bem como o nível de concentração quando estão atuando. Fenômeno, 5 anos, e Garrincha, 9 anos, cabeceiam a bola (ainda que com o focinho), tocam, fazem gols se recebem lançamentos e até defendem pênalti. De quebra, desempenham acrobacias de acordo com as instruções do técnico – o fotógrafo Marcos Limonti tirou uma foto perfeita para ilustrar isso, mas em compensação acabou levando umas patadas na barriga após Fenômeno cair do pulo que deu no ar. Apesar de correrem bastante atrás da bola e marcarem em cima no futebol, nas horas vagas, os cachorros são extremamente dóceis.
Na luta
Com todo o respeito que a definição permite, assim como todo bom brasileiro, André também é um verdadeiro vira-lata da vida. Sem falar inglês e quase sem patrocínio, o paulistano de criação humilde em Osasco (Grande São Paulo) teve que ralar bastante para vir até a África do Sul e colocar à prova todo o seu poder de adaptabilidade. Por três anos, ele guardou R$ 50 mil, dinheiro que está dando o suporte necessário para sua missão.
O treinador, especialista em comportamento animal e com uma série de cursos na bagagem, utiliza o montante para pagar todas as despesas, de alimentação a viagens intermunicipais, como as idas até a Cidade do Cabo, Port Elizabeth e Durban, onde já se apresentou. Mas não só de dinheiro André precisou para dar vida ao seu projeto. O trâmite para transportar os cães também foi bem complicado. Antes de trazê-los, o adestrador teve que submeter os cachorros a uma série de exames e vacinas (o que custou cerca de R$ 2 mil), comprar passagens especiais de vôo (R$ 5 mil pela South Africa Airways) e ainda deixar os craques caninos em observação por dois dias, já em território sul-africano.
Desde que chegou à África, André Rosa está focado em um objetivo: transformar seus belos animais de estimação em símbolos do futebol e, mais que isso, mostrar ao mundo uma série de ensinamentos que os cachorros dão a respeito de nós seres humanos. “O meu objetivo é transformar meus cachorros em mascotes mundiais. Vejo que o cachorro une as pessoas, traz alegria, é um transformador de amor incondicional, de determinação, de foco, autoconfiança e de esperança. A idéia é mostrar o que o cão brasileiro faz de bom para um mundo melhor”, explica. Para tanto, todas as performances e experiências vividas pelos animais estão sendo gravadas e disponibilizadas no site www.fenomenocao.com.
André, Fenômeno e Garrincha vão embora para o Brasil no dia 14 de julho. O coach dog volta com a expectativa de conseguir novos trabalhos promocionais envolvendo sua escola de adestramento em São Paulo, especialmente o que se relacionar à Copa 2014. Nos planos, existe até a produção de um filme. Porém, o mais importante, o brasileiro já conseguiu. Com uma bola e seus dois animais, o paulistano tem dado exemplo do verdadeiro espírito do futebol; o espírito da alegria e da confraternização.
http://comercionacopa.wordpress.com/